E em algum momento, em meio ao meio barulho habitual, fiquei
presa no silêncio. O silêncio da falta, da espera, de uma resposta que não
chega. Silêncio que sufoca, daqueles que fazem tanto barulho que não se ouve
nem o bater dos corações. Silêncio... Pleno, intenso. Me enche de nada, esvazia meu peito de tudo
que importa. Pra reinar absoluto. Só. Calado. Até meu coração ter força pra
gritar, romper as amarras. Grito no silêncio e silencio o vazio da alma.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Terra e ar
De riso à bela. Bela flor. Risobelaflor. Acho que é isso, eu
queria me ver descrita em tuas palavras, fotografada pelas lentes sorridentes
dos teus olhos cor de mel. Por inteiro. Sem máscaras, amarras ou qualquer
limitação que deturpasse, maculasse a plenitude do toque, do cheiro, do meu tu
e do teu eu. E eu tive, tive o que quis e mais, e pelo mais eu quis ainda mais,
ousei querer que ficasse, permanente ente de mim. Mas não, não podes, és
pássaro. Daqueles que voam rasgando o alaranjado do céu ao entardecer. Tua essência
é grandiosa demais, livre demais, grita pelo mundo afora, tudo aflora. E eu,
feito flor, fico sempre presa ao chão, com as raízes cada vez mais fundas e
fortes na terra. Eu sou terra, tu és ar. Flor e pássaro, encontram-se no beijo
do beija-flor, e é lindo, momento encantador. Mas é o tipo de encontro que não
perdura. É sublime. Foi sublime. E só. Eu sou terra, tu és ar.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Permita-se (re)amar
Ela tem essa mania esquisita de poetizar o fim. Não, na verdade
creio que ela poetiza o pós-fim. Depois que algo acaba ganha uma beleza
estarrecedora, perde os defeitos, vira puro encanto. Torna-se muito melhor do
que de fato foi, ou ainda é. Isso porque ela não costuma aceitar finais, ao
menos não os que não partem dela. Se partirem, quando ninguém olha ela dá um
sorriso aliviado e suspira um cruel “já foi tarde”, bem baixinho. É essa
necessidade, essa ânsia pelo controle de si e do outro que ainda a levarão à
loucura. Ela precisa sentir-se querida, ou tudo desanda. Gosta é do drama,
da dor que faz arte, que cria mundos. Se prende ao que faz mal, ao que machuca
tudo que mora no aperto do peito. Não é que goste de sofrer, só tem medo de
entregar-se à felicidade e vê-la despedaçar-se outra vez. Feito espelho que se
quebra em vários pedaços, deixando ao desastrado responsável anos e anos de
azar. Talvez seja só esse medo que se sobrepõe à coragem, paralisando,
fazendo-a deixar de viver, de si ser por inteiro. Logo ela que tem tanta
maravilha dentro de si, logo ela que brilha de tanta luz que carrega em seu ser.
Devia deixar ir o que já foi, mesmo que doa, mesmo que pareça que ainda pode
ser. O que era antes não devia ser sempre, ou simplesmente seria. E o que nos cerca
no hoje pode esconder muita coisa boa quando não se olha com carinho. Encantadoras
descobertas, novas idades, novos amores. Estão sempre à espreita, esperando que
o seu coração se deixe tocar de novo, que se abra, junto com seus lindos olhos
cor de mar. Permita-se (re)amar.
Minha paixão pelo teu olhar
Meus olhos, tão novos, já viram algumas coisas
Se encantaram com umas, fecharam para outras
Vislumbraram simplórias felicidades
Mas aí encontraram os seus
Olhos que guardam sorrisos
E quiseram ficar abertos, olhando fixo
Admirando mesmo
Até deixarem de existir
Se encantaram com umas, fecharam para outras
Vislumbraram simplórias felicidades
Mas aí encontraram os seus
Olhos que guardam sorrisos
E quiseram ficar abertos, olhando fixo
Admirando mesmo
Até deixarem de existir
domingo, 20 de janeiro de 2013
Peraí, Menina
Peraí, menina
Que os amores chegam e se vão
Mas o coração continua
Destroçado ou não
Ainda bate, pulsa
Peraí, menina
Acalma esse teu coração
Que anda sempre tão cheio, quase transbordando
Desse jeito vais sufocar com tanto sentimento
Deixa dessa tua teimosia
No aperto do teu peito não cabe o sentir de todo o mundo
Mal cabe o teu
Menina, tu que carregas o peso do azul celeste nos olhos
E a luz do Sol no sorriso
Deixa de imediatismo
Que coisas de amor são finezas
Flores a brotar nos jardins dos que cultivam com paciência
Serenos sonhadores
(In)raizar
No começo foi consciente e inconsequente, de propósito mesmo.
Depois foi comodismo, preguiça de expulsar,
deixei ficar e ficou.
Fincou o pé e criou raízes, fundas e fortes demais.
Tanto que quando a preguiça passou
meus braços foram fracos pra remover.
Meu coração já estava envolto e sustentado por elas,
se fossem arrancadas ele se despedaçaria junto.
Deixei ficar e ficou.
Fincou.
Solar
Sabe quando parece que você carrega o Sol dentro do peito?
Tá sempre quente e iluminado
A luz é tanta que transborda
Ultrapassa as fronteiras corpóreas e ganha o mundo
Tudo é claro, imaculado
É assim que eu me sinto hoje
E é como quero me sentir sempre
sábado, 19 de janeiro de 2013
O Novo
É sempre bom ter o novo
A novidade das novas idades
O descobrir, as liberdades
O novo olhar, novo cheiro,novo sorriso
A curiosidade, o desvendar de pequenos mistérios
Que guardam grandes prazeres
O tempo que traz o novo
Vai podando devagar
As ervas daninhas que o antigo deixou
Curando as feridas
Preparando o solo do coração
Pra que lá cresça e floresça tudo de mais lindo
É sempre bom ter o novo
Melhor ainda é vê-lo amadurecer
Tornar-se parte do seu ser
Ir criando raízes,afundando e aflorando dentro do peito
Já não tão novo, já não imaturo
Já seguro do inseguro
Já amor
Livre,Lava e Leva
Lava
Lava a minha memória
Leva o peso de tudo que eu carrego no aperto do peito
Tira o que me prende, manda pra bem longe
Ainda tem um pouco dele em mim
E é isso que precisa ser arrancado
Bem como se corta o mal pela raiz
Podar as ervas daninhas
Pra que o solo do coração volte a ser fértil
Refloresça
Lava, leva o que não for bom
Que eu quero leveza
Me sentir plena, inteira
Quero sentimento transbordando e não sufocando
Quero o bem reinando
Acerca e dentro de mim
Separação
Separar
fere, corta
Quando corta
dói
Como um
membro, um braço arrancado por uma lâmina afiada
Algo tão
necessário, essencial
Que
repentinamente deixa de fazer parte do corpo
Se
distanciar do que ontem fez bem e hoje só machuca dói
Dói porque
as lembranças do ontem permanecem
Vivas, constantes
O corpo todo
se movimenta como se o braço ainda estivesse lá
Mas não está
Cortar as
vezes é necessário
Mas quando
corta sangra
O vermelho
pinga, escorre, mancha
Desmancha
tudo
É o vermelho
da raiva
De amores enfurecidos, decepcionados, desiludidos
Que só passa
quando a ferida estanca
E se aprende
verdadeiramente a viver sem aquele membro
Ainda espero
o sangue parar de pingar, cansei do vermelho. Quero fazer renovar, cicatrizar.
Pra me reconstruir, ser inteira de novo. Mesmo incompleta, mesmo faltando um
pedaço.
(Di)amante
Era tudo tão
natural
Não tinha
essa ansiedade cortante
Esse
desespero de querer ter, ser mais
Tudo fluía,
se encaixava
Sem esse ar
sufocante de falta
Era joia
bruta, puramente sentimento
Era
(di)amante, agora já não sei mais
Não quero
dar nome, botar palavra
Quero tudo
como antes
Pleno
Quero sentir
o que me inundava, fazia transbordar o coração
E que não se
perdeu, mas perdeu o jeito
Anda por aí,
desengonçado
Sem saber se
só sorri ou dá um abraço
Como Céu e Mar
As vezes
bate uma angústia tão grande
Que dá um
aperto no peito
Quando eu
sinto como se só pudesse te ter em sonho
Da mente pro
coração você é sempre o melhor assunto
O mais
repetido, constante e nunca cansativo
Talvez se
você morasse dentro de mim fosse mais fácil
Ia ser o
inquilino mais querido
E eu ia
querer seus abraços todos os dias
Pra acalmar
minha pressa e aquecer o coração
Você se
apossaria das batidas pulsantes, da minha respiração
De todo meu
eu
Seria tua
Inteira
Entregue
E no dia
marcado, sempre esperado
Quando você
chegasse; por inteiro, de corpo e alma
Seríamos
dois, formando um só
Como céu e
mar
foto por Aline Mariz
foto por Aline Mariz
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